3101 – devaneios
você
e
seu olhar intrigante
mas
solitário
e eu
doce
como uma mulher
você
trabalhando
dia
de branco
dia
de preto
dia
de colorido
e eu
em
casa
te
esperando
você
escondendo-se
sempre
que se escancarava
sem
roupas
com
pudor
limitada
-
sempre, sempre
por
traumas complexos
e eu
escondido
em
suas asas
como
um animal
recém
nascido
devaneios?
3102
– procuro um poema
procuro
um poema
vindo
de lá
de
dentro
das
profundezas do que sou
mas
nada encontro
não
sou mais o que fui
(se
é que fui)
casca
grossa e ignorante
que
anda,
corre
e voa
pra
lá
pra
cá
sem
sentido nem sentidos
e
muito menos
sentindo
procuro
um poema
mas
estou muito feliz para encontrá-lo
álcool?
não
resolveu amor?
não
resolveu sexo?
muito
menos mudanças?
nada
antes
era tão mais fácil
porque
eu já tinha tudo o que me faltava
só
não entendia
que
minhas faltas eram minhas sobras
me
faltava dinheiro
quando
eu tinha o suficiente
me
faltava amor
quando
eu tinha todas as mulheres
me
faltava ego
quando
eu tinha tantos espelhos
me
faltava a ladeira
quando
eu tinha tantos precipícios
me
faltava deus
quando
eu tinha carteirinha de crente
eu
não sabia procurar
ou
encontrar
não
sei
acho
que as minhas dúvidas
me
fizeram ver
que
todas as cartas eram marcadas
mas
não eram eu
que
era o que sou:
um
poeta
em
busca do poema
que
venha
lá
de dentro
das
profundezas de quem fui...
3103
- nunca
você
nunca me quis
nem
vem
nem
tem o que falar
você
nunca me quis
você
quis que eu te fizesse feliz
e
fiz
por
um tempo
até
quando tudo pirou
e
piorou
e
você se picou
você
nunca me quis
porque
quem
quer
cuida
e
você nunca cuidou de mim
3104
– o rio
no
rio
hoje
desceu
um boi
inchado
de água
com
seres negros ao redor
sobrevoando
bicos
afiados
cutucando
alimentando-se
afastei-os
deixando
o boi livre
à
sua sina nauseante
os
peixes
depois
dos urubus
irão
se banquetear
os
próximos seremos nós...
3105 – fantasmas
só
os via
assim
aos
pés da cama
agora
vejo-os
dentro
de mim
nos
rins
no
fígado
no
pulmão
no
coração
nos
rins
a
cerveja é remédio
no
fígado
uso
torresmos para alegrá-los
no
pulmão
a
pandemia
(ah,
maldita pandemia)
ladra
como um cão
mas
no
coração
não
no
coração
ela
não me abandona
mesmo
que eu tenho querido esquecê-la
só
se ama uma vez…
3106 – falta você
por
fora
tudo
corre
desesperadamente
em
mim
não
é bem assim:
está
tudo estagnado
acho
que me falta você…
3107 – prisão perpétua (06/08/2021)
caí
em
um poço
tropeçando
em palavras
lá
no
fundo
olho
pra cima
e
espero-a
a me
salvar
olhos
quase verdes
mas
eu
sei que ela não vem
nunca
mais
nunca
mais
você
se esqueceu de mim
culpada?
não
a
culpa é minha
recebi
prisão perpétua
mas
prefiro cadeira elétrica