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25 agosto 2020

Sonhos desfeitos

Cláudia morreu.

Ela sonhava conhecer Recife
morava em São Paulo.
Seu sonho era (apenas) conhecer Recife
mas ela morreu.

João morreu
Maria morreu
José morreu
Ana morreu.

João queria ver seus netos
Maria queria ter um amor
José só queria encontrar a felicidade
Ana ainda não queria nada.

Ana era nova, tinha dezesseis.
João, cinquenta e dois.
Maria e José só tinham sessenta anos.

E foram para um buraco
com cem mil companhias.
Pretos. Brancos.
Novos. Velhos.

Sonhadores.
Todos.
E um a um foram para um buraco.

Pode chorar...


Jorge de Siqueira

01 junho 2020

bolsonaro está certo

se deus existe
ele tudo pode
permite o bem
permite o mal.

inclusive com o novo coronavírus.

ou seja:
a culpa da doença é de deus.

uns vão dizer que não foi deus quem fez
mas permitiu "alguém" criar
o que
pra mim
dá no mesmo:
a ordem partiu de quem tem o poder.

então
deus quer nos punir
como puniu um monte de gente
biblicamente
como por exemplo
em sodoma e gomorra?

deus deve ter os seus motivos.

e universalizou a doença
tirando a culpa do nosso carnaval
do nosso funk
e até de nossa corrupção.

se estou certo
concluo
que não existirá cura para essa doença
a não ser através de deus mesmo.

mas
essa cura só acontecerá
quando deus quiser:
seja com a criação da vacina,
seja com a nossa imunização,
seja com a extinção dos seres humanos.

e os que morrerem
foram escolhidos
individualmente.

e os que morrerem
foram punidos
individualmente.

senão
seria como numa queda de avião
onde morreriam muitos
ao mesmo tempo
num mesmo lugar
sem relação uns com os outros.

finalmente
coloque sua roupa nova
e vá pra rua
trabalhar
festejar
fazer o que quiser
porque
se for pra morrer
- ou não - 
seu nome já está na lista.

de deus...

autor: Jorge de Siqueira

26 abril 2020

Devaneios

você
e seu olhar
intrigante
mas solitário

e eu
doce como uma mulher

você
trabalhando
dia de branco
dia de preto
dia de colorido

e eu
em casa
te esperando

você
escondendo-se sempre que se escancarava
sem roupas
com pudor
limitada - sempre, sempre
por traumas
complexos

e eu
escondido em suas asas como um animal recém nascido

devaneios?


25 abril 2020

Procuro um poema

procuro
um poema
vindo de lá
de dentro
das profundezas do que sou

mas
nada encontro

não sou mais o que fui (se é que fui)

casca
grossa e ignorante
que anda, corre e voa
pra lá
pra cá
sem sentido
nem sentidos
e muito menos sentindo

procuro um poema
mas estou muito feliz para encontrá-lo

álcool?
não resolveu
amor?
não resolveu
sexo?
muito menos
mudanças?
nada

antes era tão mais fácil porque eu já tinha tudo o que me faltava
só não entendia
que minhas faltas
eram minhas sobras

me faltava dinheiro quando eu tinha o suficiente
me faltava amor quando eu tinha todas as mulheres
me faltava ego quando eu tinha tantos espelhos
me faltava a ladeira quando eu tinha tantos precipícios
me faltava deus quando eu tinha carteirinha de crente

eu não sabia procurar
ou encontrar
não sei

acho que as minhas dúvidas me fizeram ver que todas as cartas eram marcadas
mas não eram
eu que era
o que sou:
um poeta que busca o poema
que venha de lá
de dentro
das profundezas de quem já fui...




21 abril 2020

Músicas que eu cantaria por dias e dias e dias até esquecer como se viver.

Longe
Arnaldo Antunes


Onde que eu fui parar, aonde é esse aqui?
Não dá mais pra voltar, porque eu fiquei tão longe, longe...
Onde é esse lugar?
Aonde está você?
Não pega celular e a terra está tão longe, longe...
Não passam carros sequer
Todo comércio fechou
Não tem satélite algum transmitindo notícias de onde eu estou
Nenhum e-mail chegou
Nenhum correio virá
Eu entre quatro paredes, sem porta ou janela pro tempo passar

Dizem que a vida é assim
Cinco sentidos em mim
Dentro de um corpo fechado num vácuo de um quarto, espaço sem fim
Aonde está você?
Por que é que você foi?
Não quero te esquecer
Mas já fiquei tão longe, longe...
Não dá mais pra voltar e eu nem me despedi
Aonde é que eu vim parar?
Por que eu fiquei tão longe, longe, longe...

Longe, longe, longe...
6, 5, 4, 3, 2, 1...

Músicas que eu cantaria por dias e dias e dias até esquecer como se viver.

Se puder sem medo
Oswaldo Montenegro


Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim o meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás a porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente mas eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava

16 abril 2020

Tudo o que você ama provavelmente será perdido, mas no final o amor voltará de outra forma.


Aos 40 anos, Franz Kafka (1883-1924) que nunca se casou e não tinha filhos, passeava pelo parque de Berlim quando conheceu uma jovem que chorava porque tinha perdido sua boneca favorita. Ela e Kafka procuraram a boneca sem sucesso.

Kafka disse-lhe para se encontrar lá no dia seguinte e eles voltariam atrás dela.

No dia seguinte, quando ainda não encontraram a boneca, Kafka deu à garota uma carta "escrita" pela boneca que dizia:

"Por favor, não chores. Fiz uma viagem para ver o mundo. Vou te escrever sobre as minhas aventuras."

Então começou uma história que continuou até o fim da vida de Kafka.

Durante os encontros, Kafka leu as cartas da boneca cuidadosamente escritas com aventuras e conversas que a garota achava adoráveis.

Finalmente, Kafka trouxe-lhe a boneca (comprou uma) que tinha voltado a Berlim.

"Não se parece nada com a minha boneca", disse a garota.

Kafka entregou-lhe outra carta em que a boneca escrevia: "minhas viagens me mudaram." A garota abraçou a nova boneca e trouxe-a toda feliz para casa.

Um ano depois, Kafka morreu.

Muitos anos depois, a garota adulta encontrou uma cartinha dentro da boneca. Na pequena carta assinada por Kafka, dizia: "tudo o que você ama provavelmente será perdido, mas no final o amor voltará de outra forma."

14 abril 2020

Com a palavra Rita Lee:

Eu, que pago para não sair de casa, que só saio da toca em caso de emergência, tenho algumas dicas para você se distrair enquanto estiver em isolamento forçado. Há 8 anos vivo enfurnada e há sempre coisas interessantes para fazer.

Nada melhor do que ter a companhia de bichos, que oferecem serenidade e alegria: cuidar e brincar com animais faz o tempo passar de maneira mais divertida. Arranjar uma mudinha de planta e acompanhar o crescimento dela é emocionante. Aproveite e plante em vasinhos: cebolinha, salsinha, tomates-cereja… até alface. Descole uma orquídea, ainda com brotinhos, para acompanhar o desabrochar, lindamente, dia a dia.

Espalho telas e tintas sobre uma mesa e me arrisco a pintar alguma coisa, mexer com cores dá uma alegria na cabeça enquanto escuto músicas que me fazem feliz. Tenho feito tricô, fabrico mantas para os bichos usarem quando o inverno chegar. Escrevi uma letra vudu sobre o coronavírus e fiz uma música punk para combinar com a noia que acontece: chama-se ‘Vírus do horror’.

Faço minhas unhas e pinto de várias cores. Pratico feldenkrais por skype para meu corpo não enferrujar. Assisto séries diversas e filmes antigos na TV. Outro dia matei a saudade de um clássico dos anos 1950, ‘O dia em que a Terra parou’, bem no clima de hoje. E, é claro, sempre rola um filme de James Dean no salão.

Escolhi passar apenas 3 horas por dia acompanhando as notícias do coronavírus, mais do que isso fico deprê. Depois, acendo velas e incensos na frente do meu altarzinho com todo tipo de divindades. Peço, em especial, para Nossa Senhora Aparecida proteger o Brasil com seu manto milagroso.

Ando fuçando minha biblioteca, escolhendo livros que já li e esqueci. Arrumo gavetas, jogo fora um monte de traquitanas inúteis que acumulei ao longo dos anos. Fico namorando e limpando minha coleção de cristais phantom e meus pesos de papel. Lavo as mãos duzentas vezes por dia cantando ‘Parabéns a você’ e estou viciada em passar álcool gel, hábitos modernos.
Tenho a sorte de morar numa casinha no meio do mato com meu namorado e passeamos pelo jardim conversando com as plantas. Acabei de escrever um livro e não consigo defini-lo: se é um diário, citações esquisitas, autoajuda a mim mesma ou nonsenses da minha cabeça.

Pego o violão e noto que esqueci como tocar a maioria das minhas músicas. O que me deixa mais triste é não poder receber visitas dos meus filhos e netos, mas nada que um facetime não resolva provisoriamente.

Minha impressão é a de que nesse confinamento forçado que a humanidade está sendo obrigada a passar há um propósito Divino. Um teste para que aqueles que sobreviverem a essa guerra invisível se conscientizem de que o planeta Terra está realmente sendo destruído pelos donos do poder de cada país. E que se não modificarem radicalmente seus comportamentos em todas as áreas, aí, sim, será a Terceira Guerra derradeira. Saúde física, mental, psicológica e espiritual para todos!

13 abril 2020

E o amor, hein?

Eu já tive muita dificuldade de falar de amor. Todos os meus relacionamentos foram baseados em enormes sensações que me confundiam; era amor ou não era?

Aos cinquenta e cinco anos eu percebo que o amor só existe em poucas circunstâncias. Em se tratando de relacionamentos entre casais é muito difícil acontecer. Há a paixão, fundamental para que tudo dê certo, que tudo se torne suportável, mas, amor? Amor já é um pouco mais complicado.

Amor é o maior sentimento de bem. É aceitar tudo relacionado à pessoa amada, ser consideravelmente receptivo e compreensivo. Vamos dar alguns exemplos.

Amar o filho. Os pais sabem que um filho sempre fica em um pedestal acima de tudo. Os filhos, inclusive em momentos ruins, onde estejam muito errados, nunca deixam de ser amados. Normalmente é assim, claro, com algumas exceções. Amar os pais fica quase no mesmo nível, oscilando conforme as circunstâncias. Amar umx companheirx? Aí já é meio complicado.

Se você ama x sxx companheirx você deve estar atento a aceitar tudo. Por exemplo, sxx companheirx resolve acabar com tudo. Amar seria aceitar a circunstância (claro que é muito mais complexo) e desejar a felicidade de sxx companheirx. Incondicionalmente significa isso. Com quem elx estiver, onde estiver, sempre será amadx.

Trazendo os exemplos para a minha vida, eu já tive alguns relacionamentos. Nunca amei, mas acho que cheguei bem perto disso em diversas situações, mesmo quando havia o rompimento e cada um seguia para um lado. Eu torci para minhas parceiras terem mais sorte com outras pessoas. Eu torci para serem felizes sozinhas ou acompanhadas. Eu pedia para elas terem sucessos em todos os níveis.

Não estou confessando nada, só estou me usando como exemplo.

Sou pai, tenho três filhos e sei o que é o amor de pai. E tenho minha mãe, sei o que é amor de filho. Tenho irmãos e irmãs, amigos, parentes, colegas, conhecidos, clientes, e por aí vai. Sei quando é amor ou apenas um desejo forte de sucesso.

E sei também quando é ódio.

Deus não existe! Existe você!!!

Deus não existe? Mas, como assim? E toda essa natureza aí ao nosso redor?

Para começar gosto de explicar que sou agnóstico teísta, ou seja, resumidamente eu acho que há uma força maior que rege essa coisa toda aí, mas eu gostaria de ter uma prova maior do que apenas as que tenho.

Mas se Deus não existe quem fez o Universo? Se o universo foi criado pelo Big Bang quem fez a poeira cósmica? E se Deus existe quem fez Deus?

Bem, ninguém vai conseguir responder todas as perguntas acima, sempre vai haver uma ponta de dúvida. Na minha opinião Deus é uma força que está em cada um de nós. Está quando nos encantamos com um cachorrinho brincando, bem como está quando desejamos que o Presidente Bolsonaro pegue o coronavírus e morra. É uma força única, dentro de cada um, que nos levanta e nos derruba. Uns são mais fortes, aguentam mais "porradas" da vida, outros são mais fracos e sucumbem em depressão ou coisas semelhantes.

Quer ver uma coisa? Por que o coronavírus parou tudo, inclusive as igrejas que fazem curas? Você não acha que bastaria uma sessão de cura e tudo ficaria resolvido? Outra coisa, por que existe o coronavírus (por exemplo)? Quem o criou? Deus? Diabo? Se foi Deus, então ele quer punir o povo? Se foi o diabo, por que Deus permitiu? Então ele quer punir o povo?

Deus está em você em forma de conceitos adquiridos que se transformaram em fé. Dependendo de sua cultura você não terá outra referência e isso te tornará uma pessoa suscetível a manipulações diversas, sejam religiosas, políticas, etc. Se você tiver estudado um pouco sobre a ciência, por exemplo, ficará com maiores dificuldades de aceitar a existência de um ser invisível que controla tudo. E que tem diversos nomes tais como Buda, Krishna, etc.

Resumindo, tenha fé, visite igrejas, doe dinheiro e alimentos, faça suas vontades conforme suas necessidades físicas e espirituais, mas me deixe em paz, ou melhor, deixe todo mundo em paz. Ninguém precisa ir para o céu junto contigo. Pode ir sozinho.

Como podem idolatrar Bolsonaro? Acho que consegui entender...

Como algumas pessoas idolatram Bolsonaro? Isso nunca aconteceu em se tratando de Presidentes!!! Já adoraram cantores, artistas, religiosos, mas nunca foi assim com um Presidente!

Pensei a respeito. Acho que estamos carentes de ídolos, e na carência até um homem com idéias confusas consegue agregar seguidores.

Eu também tenho/tive meus ídolos. Eles me pediram para pensar, para ler, para estudar, para questionar. Eles me ensinaram a não aceitar as coisas sem avaliar os prós e os contras. Eles me mostraram que ser radical é idiotice, que eu devia mudar de opinião, sim, se me convencesse que estava errado. Eles me falaram sobre a necessidade de ter uma visão múltipla dos fatos, de ver do "outro lado", de outra ótica, mesmo que desconfiasse que a outra visão estivesse sendo manipulada. Eles me ajudaram a sempre questionar se não era eu quem estava sendo manipulado.

Melhor que tudo: eles me deixaram inclusive questionar se eles estavam sempre certos! E foi daí que percebi que todos mudamos de ideias e ideais. Temos fases e desejos conforme o momento, a idade, a "iluminação".

Temos apego. Ah, o apego. Eles me mostraram algumas vezes a necessidade de perceber que eu poderia estar sendo injusto apenas porque poderia estar perdendo alguma coisa. Eles me ajudaram a me decidir entre a liberdade e o crescimento financeiro, entre a ascensão profissional e o crescimento espiritual.

Usaram suas palavras para isso.

E podem ter certeza de que hoje me sinto muito melhor. Não tenho nada, mas sempre tive tudo. Não possuo bens e sou dono das ruas. Não há imóveis em meu nome, mas também não há revoltas por causa disso.

Meus ídolos! Renato Russo, Cazuza, Raul Seixas. Zé Geraldo, Pink Floyd, Beatles. Quantos ídolos eu tive. Quando ídolos eu tenho. Ícones eternos que me fizeram ser quem sou...

Saudade

A saudade dói pra caramba...