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14 agosto 2021

Últimas poesias

 

3101 – devaneios


você

e seu olhar intrigante

mas

solitário

e eu

doce como uma mulher


você

trabalhando

dia de branco

dia de preto

dia de colorido


e eu

em casa

te esperando


você

escondendo-se

sempre que se escancarava

sem roupas

com pudor

limitada

- sempre, sempre

por traumas complexos


e eu

escondido

em suas asas

como um animal

recém nascido


devaneios?




3102 – procuro um poema


procuro um poema

vindo de lá

de dentro

das profundezas do que sou


mas nada encontro


não sou mais o que fui

(se é que fui)


casca grossa e ignorante

que anda,

corre e voa

pra lá

pra cá

sem sentido nem sentidos

e muito menos

sentindo


procuro um poema

mas estou muito feliz para encontrá-lo


álcool?

não resolveu amor?

não resolveu sexo?

muito menos mudanças?


nada

antes era tão mais fácil

porque eu já tinha tudo o que me faltava

só não entendia

que minhas faltas eram minhas sobras


me faltava dinheiro

quando eu tinha o suficiente

me faltava amor

quando eu tinha todas as mulheres

me faltava ego

quando eu tinha tantos espelhos

me faltava a ladeira

quando eu tinha tantos precipícios

me faltava deus

quando eu tinha carteirinha de crente


eu não sabia procurar

ou encontrar

não sei


acho que as minhas dúvidas

me fizeram ver

que todas as cartas eram marcadas

mas não eram eu

que era o que sou:

um poeta

em busca do poema


que venha

lá de dentro

das profundezas de quem fui...





3103 - nunca


você nunca me quis

nem vem

nem tem o que falar


você nunca me quis


você quis que eu te fizesse feliz

e fiz

por um tempo

até quando tudo pirou

e piorou

e você se picou


você nunca me quis

porque

quem quer

cuida


e você nunca cuidou de mim



3104 – o rio


no rio

hoje

desceu um boi

inchado de água

com seres negros ao redor

sobrevoando

bicos afiados

cutucando

alimentando-se


afastei-os

deixando o boi livre

à sua sina nauseante


os peixes

depois dos urubus

irão se banquetear


os próximos seremos nós...



3105 – fantasmas


só os via

assim

aos pés da cama


agora

vejo-os

dentro de mim


nos rins

no fígado

no pulmão


no coração


nos rins

a cerveja é remédio

no fígado

uso torresmos para alegrá-los

no pulmão

a pandemia

(ah, maldita pandemia)

ladra como um cão


mas

no coração

não

no coração

ela não me abandona

mesmo que eu tenho querido esquecê-la


só se ama uma vez…



3106 – falta você


por fora

tudo corre

desesperadamente


em mim

não é bem assim:

está tudo estagnado


acho que me falta você…



3107 – prisão perpétua (06/08/2021)


caí

em um poço

tropeçando em palavras


no fundo

olho pra cima

e espero-a

a me salvar


olhos quase verdes


mas

eu sei que ela não vem

nunca mais

nunca mais


você se esqueceu de mim


culpada?

não
a culpa é minha


recebi prisão perpétua

mas prefiro cadeira elétrica

Saudade

A saudade dói pra caramba...