Oswaldo Montenegro
Deixa em cima desta
mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o
teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua
mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe
assim o meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do
quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado
mesmo que vazio
Deixa a toalha na
mesa e a comida pronta
Só na minha voz não
mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração
falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem
barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor
morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está
e se puder, sem medo
Deixa tudo que
lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não
voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me
recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo
ir fechando atrás a porta
Deixa o que não for
urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar
doente pousado na mesa
Deixa ali teu
endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu
levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como
nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a
insônia como gente grande
Deixa ao menos uma
vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a
dor no coração se expande
Deixa o disco na
vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta
trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha
insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à
prova toda minha resistência
Deixa eu confessar
meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que
era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a
calça de brim desbotado
Que como esse nosso
amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que
você não tem nenhuma pressa
Deixa um último
recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e
vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu
lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu
não disse mas você sabia
Deixa o que você
calou e eu tanto precisava
Deixa o que era
inexistente mas eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu
pedia mas pensei que dava
Nenhum comentário:
Postar um comentário